A má inclusao
Paradoxalmente, ao querer poupar gastos com instituições públicas, o Estado paga a instituições privadas para que o substituam, como referem Crisóstomo e Semedo (2010), relativamente à saúde, "... os dados disponíveis mostram que o Estado já financia mais de metade da prestação privada, incluindo medicamentos, meios complementares de diagnóstico e terapêutica e outros cuidados de saúde".
Financia, com o nosso dinheiro, claro. E nós temos de pagar cada vez mais por serviços de menor qualidade, tanto nas instituições públicas como nas privadas: "No que diz respeito à despesa das famílias, em 2012 e 2013, “as famílias financiaram, principalmente, os prestadores privados de cuidados de saúde em ambulatório (41,1% em 2012 e 40,3% em 2013), as farmácias (26,5% em 2012 e 24,7% em 2013), os hospitais privados (14,3% em 2012 e 14,9% em 2013)..." (Carriço, 2015).
Na educação a situação é semelhante, refere Leal (2013), com o "... financiamento estatal, de muitos milhões de euros, pagos por todos os contribuintes, de 81 colégios privados. Estes estabelecimentos, construídos de norte a sul do país, encontram-se, muitas vezes, ao lado de escolas públicas" que se encontram a funcionar abaixo da sua capacidade. Por outro lado verifica-se uma "...teia de cumplicidades que abrange ex-governantes que, depois de exercerem os cargos, passaram a trabalhar para grupos económicos detentores de muitos desses colégios, ou ex diretores regionais de educação que fundaram depois colégios que são pagos com o dinheiro dos contribuintes”.
Por vezes esquecemos que estas instituições têm como objectivo principal o lucro, no entanto operam em áreas nas quais a ética deve guiar todas as ações, o que não se verifica. E todos conhecemos alguns exemplos, desde colégios que fornecem respostas a exames, a hospitais que vendem, a 20 euros, vacinas com custo superior a 90. Como é isto possível num estado de direito?
Aconselho vivamente a leitura dos artigos referidos.
Carriço, M. (2015). Despesa com saúde volta a subir ao fim de quatro anos. acedido em http://observador.pt/2015/07/23/despesa-com-saude-volta-a-subir-ao-fim-de-quatro-anos/ [http://observador.pt/2015/07/23/despesa-com-saude-volta-a-subir-ao-fim-de-quatro-anos/]
Crisóstomo, S. e Semedo, J. (2010). Saúde: pública ou privada, para todos ou para alguns? acedido em http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2938-saude-publica-ou-privada-para-todos-ou-para-alguns [http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2938-saude-publica-ou-privada-para-todos-ou-para-alguns]
Leal, A. ( 2013) referida em Crato paga 154 milhões a colégios privados enquanto encerra escolas públicas. acedido em http://www.esquerda.net/artigo/crato-paga-154-milh%C3%B5es-col%C3%A9gios-privados-enquanto-encerra-escolas-p%C3%BAblicas/30125 [http://www.esquerda.net/artigo/crato-paga-154-milh%C3%B5es-col%C3%A9gios-privados-enquanto-encerra-escolas-p%C3%BAblicas/30125]
Rádio Renascença. ( 2015) Ensino especial em ruptura. Um técnico pode cuidar de 97 alunos. acedido em http://rr.sapo.pt/noticia/3845/cenario_bastante_grave_confirmado_no_ensino_especial [http://rr.sapo.pt/noticia/3845/cenario_bastante_grave_confirmado_no_ensino_especial]
Helena