![tel1.jpg tel1.jpg]()
![tel2.jpg tel2.jpg]()
Em época de revisão para o Exame Nacional é hábito analisar com os alunos a Carta Geológica de Portugal e refletir sobre alguns cenários de possíveis questões. A Carta apresenta-nos um país colorido e a leitura de cada uma das cores na legenda dá-nos a idade relativa das rochas. A apontar para os calcários da Zona Meridional Algarvia alguém analisou:
- Jurássico a azul então nessa altura haveria aqui um mar calminho. Fácil stora!
Este tipo de exercícios, que envolvam interpretação de dados num mapa onde a cor é um veículo transmissor de informação constitui um handicap para alunos com daltonismo. Uma deficiência nas células da retina impede-os de distinguir as cores. Por não ser uma deficiência visível, impede-nos muitas vezes a nós, não daltónicos, a tomada de consciência de que há quem percecione a realidade noutras cores.
O Centro de Física da Universidade do Minho, especializado em visão a cores aponta dados concretos. A investigação da problemática do daltonismo revela que por fatores genéticos, 8,5 % dos homens portugueses têm alguma forma de daltonismo, enquanto nas mulheres a taxa fica por 1%.
Estes números também são alunos nas nossas salas. Propomos-lhes exercícios e atividades experimentais, construímos-lhes fichas de trabalho, apresentações interativas e instrumentos de avaliação, escolhemos os manuais que lhes irão servir de suporte ao estudo. Em tudo o que fazemos para lhes garantir sucesso na disciplina partimos do pressuposto que vai ser visualizado como nós o estamos a ver, que todos percecionam o mundo como nós e estamos errados.
Em 2013, o código ColorADD, desenvolvido pelo designer Miguel Neiva, foi aplicado pela primeira vez pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) nos enunciados das provas de Biologia e Geologia. Para acesso ao Ensino Superior exigia-se a um aluno do décimo primeiro ano a interpretação de uma figura construída com Base na Carta Geológica do Anticlinal de Estremoz (IGM,1997) e estava a cores. Numa das primeiras páginas do mesmo enunciado, tal como um formulário na prova de Matemática, apresentava-se um código monocromático. Nada de pânicos, só seguir os símbolos, tal como aplicar uma fórmula!
O código ColorADD permitiu a pessoas daltónicas compreender a cor de forma gráfica, garantindo iguais acessibilidades sempre que a cor se apresentasse como veículo de comunicação e constituísse fator determinante para identificação, orientação e escolha.
Esta ferramenta de comunicação aumentativa estava até agora restrita ao formato papel, nas salas de aula. Cabia ao professor o cuidado de apresentar enunciados legíveis a todos os alunos, que recebiam uma legenda explicativa do código junto ao exercício.
Felizmente o fenómeno dos dispositivos móveis abriu-nos um filão de possibilidades em termos de ferramentas auxiliares transportáveis num iPhone. O conceito do ColorADD cresceu e tornou-se móvel com a aplicação APPcolor Add.
Basta apontar a câmara do telemóvel para a superfície que quer identificar e o nome da cor e o símbolo respetivo aparecem no ecrã. Para resultados ainda mais precisos, o utilizador pode, com dois toques no ecrã, “congelar a imagem” e fazer deslizar o anel cromático até chegar a uma cor mais específica. Os resultados podem ser automaticamente partilhados nas redes sociais, sendo também possível analisar imagens previamente gravadas no telefone.
Esta aplicação pode ser utilizada no quotidiano para escolher uma peça de vestuário ou fruta no mercado mas também lhe podemos abrir a porta da nossa sala de aula.
Da mesma forma que o aluno X, daltónico, não consegue distinguir numa caixa de morangos os verdes dos maduros apelando unicamente ao sentido da visão, também sentiria evidentes dificuldades numa aula experimental de Biologia onde lhe é proposto investigar o efeito dos glúcidos no desenvolvimento e no amadurecimento do morango.
A utilização desta aplicação como ferramenta numa sala de aula constitui uma mais-valia passando o aluno a ter um papel ativo na interpretação da informação que lhe seja comunicada pela cor, seja num gráfico, num mapa, numa imagem ou em resultados experimentais.
Com recurso a esta aplicação móvel é agora possível a um aluno daltónico, fazer análise e registo dos resultados experimentais (grau de maturação dos morangos) tendo em conta a sua coloração de forma autónoma.
Os dispositivos móveis são versáteis, multifuncionais e fazem parte do quotidiano dos alunos que os utilizam com a maior das naturalidades, sejamos realistas, também dentro das nossas salas de aula ao colo, por baixo da secretaria, teclando atrás do estojo dos lápis ou da mochila.
Assumir essa tecnologia nas escolas como parte integrante da construção de uma aula, seja ela prática experimental ou teórico-prática parece-me uma simbiose perfeita com inclusão, motivação, autonomia e o interesse dos alunos.
A APPcolorAdd está disponível para iPhone e iPad, com o custo de 0,89 euros, e brevemente estará disponível a versão Android e Windows mobile, para smartphones e tablets.
Para mais informação sobre a aplicação móvel visite o sítio:
http://coloradd-app.net/index_pt.html
Célia Gonçalves dos Santos