Não pode haver educação inclusiva sem educação especial, sem professores e técnicos suficientes para assegurar "… a recuperação e integração sócio-educativas dos indivíduos com necessidades educativas específicas" (LBSE, 1986), como verificamos com a notícia "Ensino especial em ruptura. Um técnico pode cuidar de 97 alunos" (Rádio Renascença, 03 de Novembro, 2015)O problema reside na "inclusão" da economia, ou da vertente economicista, em demasiados aspetos da nossa vida, que devem ter o humanismo na sua génese, como a educação e a saúde. Estas áreas têm sido sucessivamente espoliadas e desvalorizadas em prol de interesses económicos obscuros e personagens corruptas (escolas e hospitais privados, que subsistem à custa do Estado e dos nossos impostos).
Paradoxalmente, ao querer poupar gastos com instituições públicas, o Estado paga a instituições privadas para que o substituam, como referem Crisóstomo e Semedo (2010), relativamente à saúde, "... os dados disponíveis mostram que o Estado já financia mais de metade da prestação privada, incluindo medicamentos, meios complementares de diagnóstico e terapêutica e outros cuidados de saúde".
Financia, com o nosso dinheiro, claro. E nós temos de pagar cada vez mais por serviços de menor qualidade, tanto nas instituições públicas como nas privadas: "No que diz respeito à despesa das famílias, em 2012 e 2013, “as famílias financiaram, principalmente, os prestadores privados de cuidados de saúde em ambulatório (41,1% em 2012 e 40,3% em 2013), as farmácias (26,5% em 2012 e 24,7% em 2013), os hospitais privados (14,3% em 2012 e 14,9% em 2013)..." (Carriço, 2015).
Na educação a situação é semelhante, refere Leal (2013), com o "... financiamento estatal, de muitos milhões de euros, pagos por todos os contribuintes, de 81 colégios privados. Estes estabelecimentos, construídos de norte a sul do país, encontram-se, muitas vezes, ao lado de escolas públicas" que se encontram a funcionar abaixo da sua capacidade. Por outro lado verifica-se uma "...teia de cumplicidades que abrange ex-governantes que, depois de exercerem os cargos, passaram a trabalhar para grupos económicos detentores de muitos desses colégios, ou ex diretores regionais de educação que fundaram depois colégios que são pagos com o dinheiro dos contribuintes”.
Por vezes esquecemos que estas instituições têm como objectivo principal o lucro, no entanto operam em áreas nas quais a ética deve guiar todas as ações, o que não se verifica. E todos conhecemos alguns exemplos, desde colégios que fornecem respostas a exames, a hospitais que vendem, a 20 euros, vacinas com custo superior a 90. Como é isto possível num estado de direito?
Aconselho vivamente a leitura dos artigos referidos.
Carriço, M. (2015). Despesa com saúde volta a subir ao fim de quatro anos. acedido em
http://observador.pt/2015/07/23/despesa-com-saude-volta-a-subir-ao-fim-de-quatro-anos/ [
http://observador.pt/2015/07/23/despesa-com-saude-volta-a-subir-ao-fim-de-quatro-anos/]
Crisóstomo, S. e Semedo, J. (2010). Saúde: pública ou privada, para todos ou para alguns? acedido em
http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2938-saude-publica-ou-privada-para-todos-ou-para-alguns [
http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/2938-saude-publica-ou-privada-para-todos-ou-para-alguns]
Leal, A. ( 2013) referida em Crato paga 154 milhões a colégios privados enquanto encerra escolas públicas. acedido em
http://www.esquerda.net/artigo/crato-paga-154-milh%C3%B5es-col%C3%A9gios-privados-enquanto-encerra-escolas-p%C3%BAblicas/30125 [
http://www.esquerda.net/artigo/crato-paga-154-milh%C3%B5es-col%C3%A9gios-privados-enquanto-encerra-escolas-p%C3%BAblicas/30125]
Rádio Renascença. ( 2015) Ensino especial em ruptura. Um técnico pode cuidar de 97 alunos. acedido em
http://rr.sapo.pt/noticia/3845/cenario_bastante_grave_confirmado_no_ensino_especial [
http://rr.sapo.pt/noticia/3845/cenario_bastante_grave_confirmado_no_ensino_especial]
Helena