Num mundo em constante mudança, onde que as Tecnologias de Informação e Comunicação assumem cada vez mais um papel fundamental no nosso quotidiano, não faz sentido ignorar o seu enorme potencial enquanto ferramenta pedagógica. Se o anteriormente referido faz todo o sentido para a generalidade dos alunos, mais sentido fará no caso de alunos com Necessidades Educativas Especiais, uma vez que as TIC permitem a estes alunos o acesso à informação, à comunicação e, por conseguinte, à socialização que de outra forma não teriam. É, no entanto, óbvio que as TIC por si só não operam milagres e que não é só delas que depende o sucesso educativo, a socialização ou até mesmo a inclusão, porém, são recursos que, quando conjugados, revelam um excelente contributo nesse sentido. Pelas vantagens que representam o uso das TIC como ferramenta inclusiva, espera-se que num futuro próximo se assista a uma mudança de mentalidade de quem governa e se verifique uma maior preocupação com a efetivação do verdadeiro conceito de educação inclusiva. Porque, apesar de legislado que Todos os portugueses têm direito à educação e à cultura, nos termos da Constituição da República; e que É da especial responsabilidade do Estado promover a democratização do ensino, garantindo o direito a uma justa e efetiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares (Lei n.º 85/2009 de 27 de Agosto, pontos um dois do artigo segundo), ainda não é isso que se verifica atualmente no nosso sistema de ensino.
Lei n.º 85/2009 de 27 de Agosto. Diário da República nº 166/09 I Série, Assembleia da República, Lisboa
De acordo com a revista Indagatio Didactica, vol 3 (2), junho de 2011 (p. 59) Em 2003 a organização Becta descrevia a investigação na área, identificando benefícios gerais como a maior autonomia, a possibilidade de o aluno demonstrar o seu potencial e aquisições, e a oportunidade de serem criadas tarefas adequadas às capacidades e competências individuais. A comunicação do aluno não fica condicionada pelas suas capacidades e pode ser muito facilitada com recurso à tecnologia (soluções de hardware específicas, bem como software próprio e para todos em que se recorre às opções de acessibilidade existentes). Através de uma participação equilibrada em relação aos seus pares etários, a motivação do próprio aluno é aumentada de uma forma que potencia não só o seu desempenho académico mas também a construção de relações sociais. Na perspetiva do profissional, o uso de TIC favorece uma maior comunicação entre si, partilhando experiências com colegas (metodologias, estratégias, materiais), refletindo sobre as práticas, o que conduz à sua melhoria. Em relação aos pais e cuidadores, é apenas identificado que o uso de ajudas para a fala digitalizada os faz ter maiores expectativas na socialização e o potencial nível de participação da criança (Becta, 2003).
A inclusão não se faz apenas com recurso a altas tecnologias. Por vezes, basta a nossa vontade, um pouco de imaginação, e alguns recursos gratuitos.
E nem tem que ser apenas em contexto escolar. Estamos tão habituados à nossa rotina diária, que nos esquecemos que a inclusão pode e deve ser feita em qualquer situação. Mais uma vez, o facebook transmitiu-me esta excelente notícia:
"Restaurantes de Pamplona adaptam os seus menus com imagens"
Foi uma iniciativa promovida pela Associação Navarra de Autismo, em colaboração com duas associações de hotelaria de Navarra.
Decidiram simplificar a tarefa de almoçar/jantar fora das famílias com crianças com autismo, criando menus com imagens. Atualmente a iniciativa conta com oito restaurantes, mas esperam-se mais no futuro.
A tarefa é simples, as crianças recortam o desenho ou a fotografia do primeiro prato, do segundo prato e da sobremesa, e posteriormente colam-nos, com velcro, num papel que entregam ao empregado de mesa.
Quem sente as dificuldades, por vezes, tem mais facilidade em criar soluções, e foi Amaya Áriz, mãe de uma criança de sete anos com autismo, que utilizou as imagens de Arasaac e/ou fotografou os pratos, para criar estes menus adaptados.
A notícia acrescenta ainda que em Navarra existem cerca de 350 crianças com menos de 16 anos que têm um diagnóstico de autismo.
A iniciativa não é única em Navarra, pois em Lugo também existem 26 restaurantes com menus adaptados para pessoas com Transtorno do Espetro do Autismo.
É sem dúvida uma excelente iniciativa, que não é assim tão complexa de realizar. Os materiais utilizados em ambas as situações são de baixo custo, e não exigem altas competências informáticas. Cartolinas ou folhas de papel, tesoura, velcro, plastificadora e respetivos plásticos, argolas, computador com acesso à internet, impressora, software gratuito disponível em 16 línguas e principalmente, muita vontade de incluir.
Deixo-vos os links das notícias originais e também do Arasaac:
Sem dúvida que as TIC são um grande suporte para todos nós e em especial para a pessoa com deficiência. As tecnologias de informação e comunicação minimizam as dificuldades dos alunos com NEE e permitem-lhes realizar tarefas/aquisições que sem esse apoio, poderiam ser mesmo impossíveis. São fundamentais no processo da inclusão, mas, e apesar, de nos nossos dias a maioria das pessoas ter facilmente acesso a diversas tecnologias de apoio, também é certo que ainda há neste sentido, um longo percurso a percorrer. Nas escolas encontramos não só dificuldades no acesso a muitos dos equipamentos TIC, mas também falta de formação e motivação dos professores nesta área, o que dificulta uma mudança de metodologia e uma melhor utilização/exploração destes recursos.
Numa escola que é para todos - a tão falada e ansiada escola inclusiva -, a qualidade do ensino torna-se fulcral, sendo imprescindível a existência de um processo de adaptação e transformação educativo, no sentido de adequar o ensino às características individuais de cada aluno (Xavier, 2011).
Com o intuito de incluir o aluno com NEE, existe um vasto leque de ferramentas disponíveis e podem ser aplicadas estratégias diversificadas, consoante a dificuldade/especificidade de cada um, não esquecendo que o aluno com NEE necessita das TIC para aprender, comunicar, partilhar e sentir-se autónomo.
Nesta linha de pensamento, de realçar que as TIC assumem um papel fundamental, uma vez que, sendo adaptadas às exigências dos alunos, são, muitas vezes, utilizadas para promover a motivação dos alunos e, consequentemente, vão permitir uma aprendizagem mais rápida e com qualidade.
Desta forma, - existindo as condições necessárias -, atualmente, é possível que o indivíduo portador de deficiência tenha acesso a um mundo recheado de interações sociais, pois as TIC oferecem-lhe um conjunto de possibilidades, tornando-se, assim, uma janela aberta de oportunidades (Capitão & Almeida, 2011).
Como já tinha referido numa outra reflexão, também postada neste blog, as TIC, por si só, não garantem a inclusão, sendo que, de acordo com Capitão & Almeida (2011), emerge a necessidade de criar uma ponte entre esta conceção e a visão do indivíduo como parte integrante da sociedade em que vivemos.
Assim sendo, destaca-se a extrema importância da tecnologia na vida do aluno com NEE, na medida em que o auxilia, não só, na ultrapassagem das suas dificuldades comunicativas, bem como na sua participação e autonomia em contexto de sala de aula, elevando, assim, a sua autoestima.
Em suma, e tal como afirma Becta (2003), a existência de soluções de TIC adequadas pode ser a única oportunidade que estes alunos têm de participar na sociedade e desenvolver todo o seu potencial.
O uso das TIC no ambiente educativo e, particularmente, no âmbito da educação especial, beneficia as aprendizagens dos alunos em muitas áreas: permitindo uma melhor adaptação ao estilo de aprendizagem de cada aluno, estimula a criatividade, facilita o trabalho autónomo pois permite a autorregulação da aprendizagem, é motivante para a aprendizagem pois possui várias linguagens como a audiovisual e a sonora. É, portanto, uma estratégia de intervenção que promove e facilita a inclusão, tanto na escola como na comunidade, tal como facilita a aprendizagem e acesso a informação. No entanto, como tem sido referido ao longo do debate no blog, é expressa a preocupação na falta de meios que as escolas apresentam. Julgo que a apresentação realizada por Lucía Fernández Terol foi importante para explorar algumas facilidades gratuitas na internet, em termos de programas, e para estimular a procura de exploração das potencialidades das diversas ferramentas.
Como afirmou Portela , "...os benefícios da educação ultrapassam os retornos privados..."(2015, p.122) e "...o acesso, quer a uma educação de qualidade, quer a níveis mais elevados de formação, é determinante para o desenvolvimento económico e social português, bem como na promoção de uma sociedade menos desigual" (2015, p.123). Assim, é dever da escola proporcionar uma educação de qualidade a todos os alunos, em benefício, tanto social como económico, não apenas dos mesmos mas de toda a sociedade.
Se todo o ser humano é diferente, alguns são ainda mais diferentes. Cabe à escola responder "... de forma apropriada e com alta qualidade à diferença, em todas as formas que ela possa assumir (RODRIGUES, 2003)" ( Vaz, n.d. , p. 2).
As TIC são o meio/ instrumento ideal para responder a esta diferença pelos seguintes motivos: estão disponíveis em qualquer escola e permitem acesso/utilização fácil, caso não se trate de hardware ou software mais complexos e específicos; são interactivas e extremamente apelativas, pela combinação imagem/som, promovendo a motivação; são personalizáveis/ editáveis, permitindo ir ao encontro de objectivos concretos e particulares, adequando as tarefas ao aluno e promovendo, em simultâneo, a autonomia e auto-regulação, possibilitam experiências transdisciplinares e proporcionam a construção do próprio conhecimento; nivelam o acesso à informação e ao conhecimento; o recurso aos dispositivos de apoio aumentativos e alternativos facilitam a comunicação, em concreto de crianças com Paralisia Cerebral (PC) , tanto com o professor, como com outros alunos, possibilitando uma efectiva socialização (Capitão e Almeida, 2011).
Numa sociedade que pensa e socializa online, as TIC são ferramentas de trabalho da criança, tal como são o lápis e o caderno ( Vaz, n.d. , p. 14).
Referências
Capitão,S. e Almeida, A. (2011). O uso das TIC para a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais. in Indagatio Didactica, (vol.3(2), p.p.59-65)
Portela, M. (2015). Retornos privados e sociais da educação em portugal. in Luís Catela Nunes (org.). A escola e o desempenho dos alunos (pp. 105-126).Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos
Vaz, J. (n.d.). Inclusão e tecnologias. O papel decisivo das tic na inclusão de certos tipos de nee in CRTICee1
O recurso às TIC minimiza as dificuldades e favorece a forma como o aluno com Necessidade Educativas Especiais convive com os outros, facilitando a comunicação que, desta forma, não fica condicionada pelas suas capacidades e pode ser muito facilitada com recurso à tecnologia (soluções de hardware específicas, bem como software próprio e para todos em que se recorre às opções de acessibilidade existentes). Através de uma participação equilibrada em relação aos seus pares etários, a motivação do próprio aluno é aumentada de uma forma que potencia não só o seu desempenho académico mas também a construção de relações sociais. (Capitão e Almeida, 2011)
É neste contexto que a utilidade dos sistemas aumentativos e alternativos de comunicação se tornam evidentes, uma vez que permitem àqueles que têm dificuldade em articular palavras de forma percetível, assim como àqueles que não conseguem ou não podem simplesmente falar, comunicar. São já vários estes tipos de sistema disponíveis no mercado, encontrando-se disponíveis em forma de hardware, tais como ratos e teclados adaptados, apontadores, lupas de leitura, assim como na forma de software disponíveis em sítios como o Arasaac, já mencionado neste Blog.
O simples facto de ser possível comunicar com o outro, torna a construção de relações sociais mais fáceis, sendo assim, esta construção pela comunicação, a pedra basilar da inclusão, o resto surge naturalmente, a comunicação gera conhecimento e tomada de consciência do outro, desempenhando as TIC um importante papel em todo este processo.
As TIC podem contribuir para o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem, se considerarem a diversidade dos alunos, potenciando outras formas de ensinar e de aprender, de conviver e de se relacionar. Influenciam se apostarem pela inovação educativa trabalhando para a igualdade. Habitualmente associar as TIC à escola inclusiva leva-nos a pensar em Educação Especial, e como a tecnologia apoia educativamente as pessoas com necessidades educativas especiais. Quando realizamos esta associação, no âmbito das TIC, introduzimo-nos ao universo da tecnologia adaptativa.
A integração das TIC na sala de aula cumpre diversas funções, tais como: (1) acesso permite a aprender a utilizar a tecnologia, que nos dias de hoje, é tão importante quanto qualquer outra competência; (2) adoção apoiar a forma tradicional de ensinar e aprender, tornando-se um complemento; (3) adaptação integrar nas classes tradicionais; e (4) inovação descobrir novos usos de tecnologia e combinar diferentes modalidades.
Transpondo a teoria para a prática, a tecnologia dos dias de hoje permite-nos tornar a aula mais interativa, mais motivante e facilitadora da inclusão dos alunos, principalmente daqueles com necessidades educativas especiais. Um computador com um processador de texto por vezes é suficiente para motivar aquela criança que não gosta de escrever com o lápis ou com a caneta. Um software com movimento, gráficos e design apelativo pode ser suficiente para aquela criança que tem dificuldades em concentrar-se e a ficar ali apenas a ouvir o professor. Uma ajuda técnica, como um switch, permite a um aluno com dificuldades motoras participar nas atividades tal como qualquer outro aluno. São pequenos exemplos, numa infinidade de tantas opções que existem, que permitem incluir todos os alunos em sala de aula, possibilitando-os ter acesso ao ensino.
A inclusão não se faz apenas com recurso a altas tecnologias. Por vezes, basta a nossa vontade, um pouco de imaginação, e alguns recursos gratuitos.
E nem tem que ser apenas em contexto escolar. Estamos tão habituados à nossa rotina diária, que nos esquecemos que a inclusão pode e deve ser feita em qualquer situação. Mais uma vez, o facebook transmitiu-me esta excelente notícia:
"Restaurantes de Pamplona adaptam os seus menus com imagens"
Foi uma iniciativa promovida pela Associação Navarra de Autismo, em colaboração com duas associações de hotelaria de Navarra.
Decidiram simplificar a tarefa de almoçar/jantar fora das famílias com crianças com autismo, criando menus com imagens. Atualmente a iniciativa conta com oito restaurantes, mas esperam-se mais no futuro.
A tarefa é simples, as crianças recortam o desenho ou a fotografia do primeiro prato, do segundo prato e da sobremesa, e posteriormente colam-nos, com velcro, num papel que entregam ao empregado de mesa.
Quem sente as dificuldades, por vezes, tem mais facilidade em criar soluções, e foi Amaya Áriz, mãe de uma criança de sete anos com autismo, que utilizou as imagens de Arasaac e/ou fotografou os pratos, para criar estes menus adaptados.
A notícia acrescenta ainda que em Navarra existem cerca de 350 crianças com menos de 16 anos que têm um diagnóstico de autismo.
A iniciativa não é única em Navarra, pois em Lugo também existem 26 restaurantes com menus adaptados para pessoas com Transtorno do Espetro do Autismo.
É sem dúvida uma excelente iniciativa, que não é assim tão complexa de realizar. Os materiais utilizados em ambas as situações são de baixo custo, e não exigem altas competências informáticas. Cartolinas ou folhas de papel, tesoura, velcro, plastificadora e respetivos plásticos, argolas, computador com acesso à internet, impressora, software gratuito disponível em 16 línguas e principalmente, muita vontade de incluir.
Deixo-vos os links das notícias originais e também do Arasaac: