Efetivamente, decorridos vinte anos desde a Declaração de Salamanca (Junho 1994), constatamos que a atual realidade dos alunos com necessidades educativas especiais nas escolas é bem diferente da que se vivia na altura.
Portugal, enquanto país implicado neste documento, tem procurado, nestas duas décadas, corresponder ao compromisso assinado, nomeadamente através da criação de legislação sobre inclusão (Despacho 105/97, de 1/07), procurando ir ao encontro do referido nos pontos três (3) e vinte (20) da declaração acima mencionada:
³3. O princípio orientador deste Enquadramento da Ação consiste em afirmar que as escolas se devem ajustar a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. ³
³20 Deve ser dada atenção especial às necessidades das crianças e dos jovens com deficiências severas ou múltiplas. Eles têm os mesmos direitos que todos os outros da sua comunidade de atingir a máxima autonomia, enquanto adultos, e deverão ser educados no sentido de desenvolver as suas potencialidades, de modo a atingir este fim.²
Precisamente no sentido de desenvolver as potencialidades dos jovens com necessidades educativas especiais (NEEs), as escolas têm vindo, ao longo dos anos, a encontrar estratégias diversificadas que minimizem os obstáculos físicos e/ou cognitivos que estas crianças enfrentam. Nesse sentido, o desenvolvimento das TIC, o seu acesso, mais ou menos generalizado, nas escolas e a sua adaptação às NEEs têm sido uma mais-valia.
Deambulando por alguns blogs (http://neeiscia.blogspot.pt/2007/05/as-tic-na-educao-especial.html <http://neeiscia.blogspot.pt/2007/05/as-tic-na-educao-especial.html> ) deparei-me com uma pergunta que aqui partilho, a fim de vos levar a refletir um pouco. Qual o impacto das TIC no processo de ensino / aprendizagem na Educação Especial, segundo a perspetiva do professor?
Depois de muitos anos em que a pessoa deficiente foi vítima de exclusão social, a sociedade tem vindo ultimamente a tomar consciência da sua existência e do seu valor enquanto indivíduos. No entanto, as limitações impostas pela deficiência condicionam a sua afirmação como membros de pleno direito das comunidades em que estão inseridos. Neste aspeto, a engenharia pode e deve representar um papel fundamental disponibilizando os seus conhecimentos no sentido de permitir ultrapassar essas limitações. O uso ativo das novas tecnologias permite a criação de um sem número de ajudas técnicas capazes de proporcionarem uma substancial melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência. (in Tecnologias de Apoio a Pessoas com Deficiência, Manuel G. Gericota) Carla Maio
Acredito que o espírito de partilha deve imperar na comunidade educativa. Afinal, todos trabalhamos para um objetivo comum: educar as nossas crianças e jovens.
O mundo das TIC é o meio ideal para praticar essa partilha, na medida em que não apenas permite o acesso a um universo infinito de informações e materiais, bem como o contacto simples, rápido e fácil entre os cidadãos, facultando todos os meios necessários para efetivar essa divulgação.
Tendo em conta o contexto sócio-económico em que o país se encontra e os constrangimentos de orçamento das escolas, é de todo importante aproveitarmos todos os recursos disponíveis. A internet divulga alguns programas de software gratuitos que podemos utilizar para trabalhar com as nossas crianças. Aqui ficam algumas opções e, já agora, a proposta de partilharmos também as atividades que criarmos.
Software livre para desenvolver quadros de comunicação e linguagem, que permite criar tabuleiros básicos e complexos, conforme as necessidades da criança. Os gráficos estão incluídos no programa e são pesquisáveis ??por palavra-chave. Os gráficos são coloridos e de histórias interessantes.
Programa que lê os textos em português e apresenta, simultaneamente no ecrã, a imagem dos lábios a movimentarem-se. Pode ser utilizado para estimular a aprendizagem da escrita e da fala.
- Livros Interativos Multimédia (LIM): Semelhante ao Jclic, apresenta algumas opções com grande potencial. Entre as atividades disponíveis encontram-se relações entre colunas, arrastar e soltar arquivos, combinação de frases com sons ou imagens e jogos de memória. Site: http://www.educalim.com/cdescargas.htm
- Atividades já Produzidas Para quem quer começar a utilizar os meios tecnológicos, antes de começar a fazer as suas próprias atividades, pode começar por explorar estas? Site: http://www.senteacher.org/Files/
- Powerpoint
Para quem considera que este programa só se dedica a apresentações interactivas, basta um clique e encontram-se atividades muito interessantes realizadas a partir deste software.
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) estão cada vez mais presentes no quotidiano e em diversas áreas da sociedade, nomeadamente na Educação. O uso das TIC no contexto da sala de aula pode promover a motivação e participação dos alunos, um dos maiores desafios que os docentes enfrentam. Contudo, muitos docentes sentem-se incapazes de trabalhar com novas tecnologias, o que nos leva a pensar no porquê de, nos dias de hoje, ser fundamental a existência de uma estreita relação entre as TIC e a escola.
É necessário que a Educação se adapte e acompanhe as mudanças sociais, culturais e económicas despoletadas pelo aparecimento das TIC, visto que cada vez mais se exige que a formação dos jovens seja especializada e adequada às exigências do mercado de trabalho. Os sistemas educativos devem acompanhar esta evolução e oferecer respostas formativas adequadas, sob pena de ficarem totalmente ultrapassados. O uso das TIC na sala de aula pode permitir que os alunos aprendam temas, que poderiam não lhes despertar muita atenção, ³fazendo coisas², em vez de aprenderem ouvindo dizer como é que as coisas devem ser feitas. Todavia, a introdução das TIC em contexto escolar não tem sido fácil, porque existem obstáculos em termos de espaço e funcionamento, mas também porque é exigido que o professor repense e reorganize as suas estratégias. Enquanto no passado o professor detinha a autoridade da informação, com o novo sistema de ensino a sua autoridade passa a ser desafiada. Os alunos passam a ter a capacidade de procurar informação sobre vários assuntos, sendo, por isso, mais críticos e criativos. Este facto gera, por vezes, ansiedade e insegurança nos docentes. Estes sentimentos só poderão ser atenuados mediante a realização de mais formação neste âmbito e com a interiorização por parte dos professores da noção de que a era do "professor sábio" já faz parte do passado.
A Comunicação Aumentativa e/ou Alternativa (CAA), denominada, originalmente por Augmentative and Alternative Communication (AAC), visa compensar e facilitar, temporária ou permanentemente, as limitações e incapacidades dos indivíduos com graves perturbações da comunicação da linguagem expressiva e/ou perturbações da compreensão. A CAA pode ser necessária para indivíduos que tenham perturbações nos modos de comunicação gestual, oral e/ou escrita. O objetivo engloba a melhoria da qualidade de vida, proporcionando um maior controlo sobre a sua vida e uma maior auto-estima, dando oportunidade de sentir maior igualdade na sociedade. Dos vários sistemas aumentativos e/ou alternativos de comunicação, o Vocabulário Makaton é um dos que funciona como facilitador da comunicação, numa perspectiva evolutiva ou de desenvolvimento, tendo como padrão o processo normal de aquisição de linguagem. É um programa de linguagem completo, que inclui um corpo de vocabulário básico, ensinado com o recurso a gestos e símbolos em simultâneo com a fala e pressupõe a utilização de estratégias estruturadas de ensino. O Makaton resulta da junção de alguns aspetos da Língua Portuguesa oral e da Língua Gestual Portuguesa. É utilizado como facilitador da interação e da comunicação, um meio prioritário de comunicação e uma estratégia para a aquisição/desenvolvimento da linguagem oral e possibilita o desenvolvimento de capacidades de literacia. As melhorias observadas aquando da utilização do Makaton são ao nível do contacto visual, da atenção e concentração, da socialização e vocalizações, assim como, na expressão da linguagem falada e na redução de comportamentos inadequados. O objetivo do Makaton é que o utente ganhe competência comunicativa com gestos e/ou símbolos e desenvolva a sua capacidade para funcionar num estilo de vida tão independente quanto possível. O uso multimodal de gestos e/ou símbolos é útil para capacitar o utente a comunicar. Neste sentido, para auxiliar a intervenção, surge a utilização das TIC para reforçar a aprendizagem. O computador/tablet, sendo uma ferramenta de apoio e estimulação, promove o desenvolvimento das competências comunicativas, linguísticas e sociais, reforçando a motivação da criança e a vontade de aprender em diferentes contextos. Sara Baptista
As novas tecnologias são de facto um recurso extraordinário na intervenção no domínio de várias patologias. Os portáteis e tablets trazem todas as potencialidades da tecnologia com a grande facilidade de serem mais pequenos e transportáveis para todos os contextos e lugares sem a preocupação do peso, tamanho e eletricidade. Este site http://www.movimentodown.org.br/2012/11/aplicativos-para-ipad-e-android-sao- aliados-na-estimulacao-veja-lista/ apresenta um estudo de duas terapeutas da fala no âmbito das potencialidades do uso dos tablets nas crianças com síndrome de down.
TIC e Transição para a Vida Pós-Escolar O processo de transição para a vida pós-escolar (TVPE), pelo qual passam todos os jovens adolescentes, com ou sem Necessidades Educativas Especiais (NEE), está associado ao desenvolvimento de autonomia e responsabilidade. Durante este processo, os jovens são confrontados com várias escolhas e com a necessidade de tomar decisões. É fundamental que possuam as competências necessárias para tomar decisões adequadas acerca do seu futuro (por exemplo, a escolha da profissão), tendo como ponto de referência as suas aptidões, os seus interesses, as suas motivações e uma recolha de informação fundamentada. O processo de recolha de informação acerca das profissões e a exploração dos interesses pode ser realizado com o recurso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), em contexto escolar. Para que as TIC contribuam para a educação de alunos com NEE, é imprescindível apostar na promoção da acessibilidade e numa conceção não discriminatória das mesmas. A escola inclusiva deve fazer das TIC uma parte da solução e não do problema. Assim, as TIC podem promover o desenvolvimento da autonomia, especialmente no Processo de Transição para a Vida Pós-Escolar, disponibilizando ao aluno todas as ferramentas necessárias e adequadas (utilização da Internet com recurso ao computador, tablet/Ipad, telemóvel) para fazer pesquisas (profissões, oportunidades de emprego, curso de formação, atividades de lazer, serviços existentes nas comunidade, etc.), efetuar um portfólio, realizar um currículo, criar documentos de texto e/ou outros, consultar os horários de transportes que pretenda utilizar, comprar bilhetes para transportes através da Internet, entre outros. As TIC proporcionam ao jovem com NEE um infindável leque de informações que são importantes no seu processo de autonomia e no seu processo de tomada de decisão.
As perturbações do espectro do autismo enquadram-se no grupo de perturbações mais severas com que os profissionais de saúde mental infantil têm de lidar. A gravidade desta perturbação surge em áreas como a socialização, a comunicação e a aprendizagem, interferindo no funcionamento das crianças. A Intervenção ao nível da Terapia da Fala com crianças com Perturbação da Comunicação e da Relação tem que ser sensível às dificuldades específicas da perturbação e às diferenças individuais de cada criança. Isto pressupõe uma avaliação cuidada e muito mais abrangente do que com outras patologias, uma vez que estas crianças apresentam graves alterações não só de linguagem, mas de comunicação, nomeadamente da comunicação não-verbal. Estas dificuldades são evidentes quer ao nível da compreensão, no processamento da informação verbal e não-verbal, quer ao nível da expressão, na utilização do gesto natural, do gesto codificado e da palavra para entrar em comunicação com o outro. A Terapia da Fala tem, assim, como objetivo fornecer à criança instrumentos convencionais de comunicação, pré-simbólicos e simbólicos, alargando as suas intenções comunicativas às categorias pragmáticas não utilizadas. Pretende-se que a criança comece a usar gestos naturais como a alternância do olhar, o apontar, a expressão facial, o acenar com a mão e com a cabeça, o beijar e abraçar, como formas comunicativas pré-simbólicas convencionais. Como objetivo último, pretende-se que a criança venha a utilizar formas comunicativas simbólicas: a palavra, o gesto codificado e o símbolo codificado. Neste sentido, as T.I.C. têm um papel facilitador no ensino aprendizagem. A preocupação dos profissionais de educação prende-se com a inclusão, todas as crianças devem ?viver numa escola inclusiva?. A escola inclusiva só é para todos se a todos der resposta e as T.I.C. são a grande alternativa para a aquisição de competências por parte das crianças com Necessidades Educativas Especiais. Como referido anteriormente, além das dificuldades no seu processo de aprendizagem, estas crianças apresentam muitas dificuldades na interação e comunicação. Neste enquadramento surge o computador/tablet e os programas educativos a eles associados que se tornam interlocutores sempre disponíveis com um papel fundamental no processo ensino aprendizagem, contribuindo para uma melhor comunicação, socialização e autonomia. O computador/tablet surgem como ferramentas extraordinárias que promovem o desenvolvimento das competências visuais, auditivas, motoras e linguísticas. Os programas educativos são um recurso didático que se deve utilizar, no sentido de promover uma atitude positiva na criança, uma maior motivação em aprender e em participar. Além disso, considera-se também importante o reforço positivo em todo o processo de intervenção terapêutica. Sara Baptista
A Agência Europeia para o Desenvolvimento da Educação Especial, em 2005, publicou um estudo realizado em 14 países "Educação Inclusiva e Práticas de Sala de Aula nos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico" (http://www.european-agency.org/sites/default/files/iecp_secondary_pt.pdf) que permitiu aferir algumas estratégias eficazes para promover a inclusão real de alunos NEE's, a saber: 1) ensino cooperativo, 2) aprendizagem cooperativa, 3) resolução cooperativa de problemas, 4) ensino cooperativo eficaz, 5) grupos heterogéneos, 6) ensino por áreas curriculares e 7) estratégias alternativas de aprendizagem. A importância deste artigo reside no facto de serem apresentados estudos de caso em vários contextos, levantamento de problemas e procura de propostas de resolução dessas mesmas dificuldades, no âmbito do Ensino Especial. As TIC, para além de se inserirem no ponto 6, podem ser trabalhadas com sucesso na perspetiva de cada uma das estratégias apresentadas. Compete agora a cada uma de nós enquanto docentes, educadores, terapeutas, ou outros profissionais, encontrar atividades no âmbito das TIC desafiantes, aliciantes e motivadoras para o sucesso.
Aqui ficam algumas propostas:
1) Tutoria entre pares: Construção e interação com um protótipo robótico em trabalho de pares: Um aluno com menor limitação em termos da motricidade fina constrói um protótipo em conjunto com outro com restrições a este nível ajudando-se mutuamente (possibilidade de programação, caso haja competências a esse nível).
2) Grupos heterogéneos: Jogo didático promovido pelo professor, a partir do BoardMaker com a divisão da turma em equipas heterogéneas.
3) Planeamento em conjunto de uma agenda de rotinas combinada entre a turma e organizada no outlook (com avisos sonoros, mensagens de texto).
4) Trabalho de grupo diferenciado: Cada grupo desenvolve uma tarefa selecionada por si entre um conjunto de possibilidades definidas pelo professor no âmbito das TIC (puzzle interativo, pintura de figuras, organização de sequência de imagens) ) e apresenta oralmente à turma.
Por aí, mais alguma ideia de atividade no domínio das TIC a partir das conclusões deste estudo europeu?
A caminho de um mundo mais inclusivo Creio que um dos grandes objectivos para a educação na sociedade atual é conseguir formar bons cidadãos, cidadãos que observem, sejam críticos e tenham sentido de justiça social. Atores dotados de um espírito solidário e de entreajuda. Nas Artes Visuais treina-se o olhar, a sensibilidade e a criatividade de cada indivíduo. É muito comum encontrar nas salas de aula alunos ?visualmente especiais? com limite na capacidade na distinção de cores (daltónicos).
O projeto do português Miguel Neiva ganha nome de nova linguagem. Pretende-se numa fase inicial que os códigos da Coloradd eduquem o olhar - com simplicidade e eficácia - dos meninos e meninas daltónicos das nossas escolas. Símbolos que levam, de forma clara e absoluta, à aquisição de capacidades significativas permitindo aos nossos jovens uma formação adequada - repletam de um conjunto de competências visuais. E uns óculos para que os ditos ?normais?consigam ver como se sentem os seus amigos/colegas que não conseguem ?ver? a cor como eles. Para saber mais sobre este projecto basta clicar em http://www.coloradd.net/ . Vera Silva (Professora de Artes Visuais)